sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Movimento Comunitário do Jardim Botânico: tempo de planejamento!


Da Redação do MCJB - 12/11/2015

Depois de duas semanas de trâmites administrativos para obtenção do CNPJ como entidade social, as diretorias administrativa e executiva do Movimento Comunitário do Jardim Botânico começam a organizar o planejamento comunitário para 2016.
Para atingir seus objetivos o Movimento pretende montar comissões por área de atuação. A explicação é de Rose Marques, presidente do Movimento Comunitário do Jardim Botânico. As comissões funcionarão como departamentos ligados à Secretaria Executiva, de forma que sejam autônomas na construção desse planejamento e, após aprovação de suas propostas pela diretoria, elas farão parte de planejamento integrado do Movimento. “Queremos colocar nesse planejamento não apenas o que cobraremos do poder público, mas principalmente o que poderemos fazer pela comunidade, independente da participação do poder público”, informou Rose ao blog.
As comissões deverão se organizar ao redor de temas como eventos, cultura, meio ambiente, esportes, convênios, comunicação, entre outros. Clique aqui para conhecer quais são as comissões.
Demandas para poder público já foram organizadas e encaminhadas
O Movimento, desde o início do ano, quando ainda não havia se institucionalizado, identificou um conjunto de demandas comunitárias sobre as quais foram propostas soluções. Em dois ofícios enviados ao GDF somaram-se 105 solicitações divididas por prioridade e setor.
O poder público, entretanto, não deu resposta às demandas comunitárias. Rose Marques avalia o ano de 2015 como encerrado e se organiza para que 2016 tenha outras perspectivas diante da capacidade de resposta do GDF. “Os avanços foram poucos. Conseguimos a delimitação geográfica do bairro com a portaria n.4, temos as obras de intervenção no balão da ESAF, os cones na saída da Estrada do Sol, que ajudaram o fluxo nos horários de pico. Mas os principais pedidos não foram atendidos”, reclamou Rose.
Um grande problema enfrentado pela comunidade é a dificuldade para obtenção de alvarás e habite-se. O caso se agrava para o comércio e áreas regularizadas. Rose Marques avalia que, na origem desses problemas, está a falta de uma Administração Regional própria para o Jardim Botânico.
Como participar das Comissões
Rose afirma que toda comunidade interessada poderá participar, tanto do planejamento para 2016, como efetivamente das comissões e da execução das propostas. “Nosso objetivo é envolver a comunidade na solução dos nossos problemas. Vamos deixar de lado a cultura de reclamar do poder público e tentar viabilizar, nós mesmos, as soluções.”, informou. 

Para participar, o Movimento disponibilizou um formulário de inscrição, basta clicar aqui. A pessoa interessada também poderá comparecer na reunião comunitária que se realizará na próxima terça (17), às 19:30, na sede do Movimento na Estrada do Sol, no estande do Condomínio Quatro Estações, em frente ao Condomínio Ouro Vermelho 1.


terça-feira, 29 de setembro de 2015

Projeto transforma bibliotecas públicas com uso de tecnologia

29/09/2015
 
Foto: Shuttestock
Foto: Shuttestock

Iniciativa do CDI vai distribuir computadores e capacitar bibliotecários para tornarem o espaço mais convidativo à comunidade

Por Marina Lopes –

Quando se fala em uma biblioteca, as estantes repletas de livros e o silêncio absoluto costumam ser a primeira cena que vem à cabeça. Para ressignificar esse espaço, o CDI (Comitê para Democratização da Informática) deu início ao programa Recode, que vai estimular iniciativas de empoderamento digital em 50 bibliotecas públicas nas cinco regiões do país.
A partir do uso de tecnologia, o projeto pretende desenvolver um ambiente de inovação nas bibliotecas, permitindo que elas se tornem um espaço de convivência, onde os jovens se reúnem para experimentar ferramentas digitais que auxiliam na resolução de problemas da sua comunidade. Com patrocínio da Bill & Melinda Gates Foundation, que investiu US$ 2,3 milhões, e apoio do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, a iniciativa prevê a distribuição de 500 novos computadores e realização de formações para bibliotecários que atuam nesses locais.
“O fato da biblioteca ser vista apenas como um espaço de leitura pode afastar as pessoas. Ela não se torna um espaço de convívio”, diz Elaine Pinheiro, diretora executiva do CDI Brasil. De acordo com ela, a biblioteca inovadora deve interagir com a comunidade, acolher a tecnologia e ter o jovem como um participante ativo. “Ele vai se apropriar da biblioteca como um espaço para criar, reinventar e convidar amigos para discutir temas”, explica.
Cada biblioteca selecionada pelo programa vai receber dez computadores, que serão espalhados pelo espaço para integrar o digital com o analógico (representado pelos livros). “Pode ter uma estação de música, um livro, um computador ou um tablet, uma roda de histórias ou palco para crianças. Ele [frequentador] vai se apropriando daquilo na medida em que precisa”, exemplifica.
Dentro do Recode, os bibliotecários irão assumir o papel de reprogramar esse espaço físico da biblioteca com o apoio da comunidade. Para auxiliar, eles participarão de formações onde serão discutidas questões de comunicação, metodologias participativas e mapeamento de parceiros locais. A ideia é que eles consigam, junto com a equipe do programa, criar novas práticas e projetos onde o uso da tecnologia possa incentivar o acesso à informação.
Os projetos de empoderamento digital para jovens criados pelas bibliotecas deverão trabalhar com uma metodologia baseada em três pilares: resolução de problemas, desenvolvimento de habilidade para o século 21 e autonomia no uso das tecnologias da informação e comunicação. “Aliar a tecnologia e a metodologia participativa ao espaço da biblioteca é um caminho muito assertivo para evoluir.”
O programa foi lançado no dia 9 de setembro, durante um evento na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, em São Paulo (SP). Atualmente está em fase de lançamento presencial nas bibliotecas e início da formação com os bibliotecários. (Porvir/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Porvir.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

COP-21 e as dificuldades de um acordo num período conturbado

24/09/2015
 
Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

“É preciso um acordo de longo prazo e com metas dos principais emissores, que são, em primeiro lugar, os países industrializados, tendo à frente os Estado Unidos; em segundo lugar, um conjunto de países intermediários, tendo à frente a China, incluídos entre eles o Brasil, além da Índia”, menciona o Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa.

A 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP-21, que será realizada entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro deste ano, em Paris, na França, terá “um papel semelhante ao que teve a Conferência de Kyoto”, ou seja, abrirá “um novo período de discussão sobre as questões climáticas”, diz Luiz Pinguelli Rosa, na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone.
Para ele, o ponto central da Conferência deve focar na elaboração de um acordo que possibilite “a redução das emissões” a partir de uma perspectiva de “eficiência energética”, e de analisar quais políticas são necessárias para uma “economia viável”.
Além da dificuldade de os países chegarem a um acordo acerca das metas a serem seguidas a partir de 2020, Pinguelli Rosa chama atenção para o fato de o novo acordo ter de emergir num “momento em que o mundo está conturbado por uma série de problemas”, desde crises e dificuldades econômicas, até a situação dos refugiados e do Estado Islâmico. “Tudo isso chama a atenção do mundo, de maneira que a Conferência do Clima acaba ocupando um papel modesto nas prioridades das grandes potências e dos países como um todo”, salienta.
O Brasil ainda não divulgou suas metas para a COP-21, mas, de acordo com o pesquisador, o país deve manter uma proposta em três níveis, como já vem fazendo nas Conferências anteriores. A primeira proposta de compromisso, explica, seria “para os países desenvolvidos, como já são os do anexo I da Convenção do Clima”; a segunda seria para um “grupo que inclui Índia, Brasil, China, países grandes e que têm certo desenvolvimento econômico e tecnológico; e um terceiro dos países menores, mais pobres e que não podem assumir compromissos muito fortes”.

Luiz Pinguelli Rosa é graduado em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, mestre em Engenharia Nuclear pela COPPE/UFRJ e doutor em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUCRJ. Foi Diretor da COPPE/UFRJ por quatro mandatos e é ex-presidente da Eletrobrás. Atualmente é Diretor da COPPE/UFRJ, Professor Titular do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ, Professor do Programa de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da UFRJ e Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual é a importância da COP-21 em relação às demais COPs, neste momento? Que aspectos são diferentes hoje em relação à época em que se propôs Kyoto, tanto em relação aos dados acerca das mudanças climáticas quanto acerca da postura dos países no sentido de tomar uma decisão de enfrentar as mudanças climáticas?
Luiz Pinguelli Rosa – A COP-21 tem um papel semelhante ao que teve a Conferência de Kyoto, porque o período iniciado com o Protocolo aprovado em Kyoto se encerra a partir da COP-21, ou seja, ela abre um novo período de discussão sobre as questões climáticas. Então, ela terá um papel de decidir sobre os compromissos dos países a partir de agora e por um longo período de tempo na direção, em primeiro lugar, da redução das emissões de gases de efeito estufa – GEE. Isso está acontecendo em um momento em que o mundo está conturbado por uma série de problemas: problemas econômicos, não totalmente resolvidos — o exemplo da Grécia chama a atenção, agora o do Brasil também, e a Europa não está em uma situação cômoda economicamente. Quem está melhor é os Estados Unidos, mas não se sabe até quando. O preço do petróleo teve grandes oscilações e também há o problema dos refugiados, o problema do Estado Islâmico, uma instabilidade política enorme no Iraque e na Líbia — países que sofreram intervenções norte-americanas ou dos países ocidentais, malsucedidas porque estão totalmente desorganizados. Na Síria também houve um estímulo à rebelião, o qual está dando péssimos resultados, inclusive com a penetração do Estado Islâmico também, tanto no Iraque quanto na Síria, que é uma radicalização absurda do islamismo. Portanto, tudo isso chama a atenção do mundo, de maneira que a Conferência do Clima acaba ocupando um papel modesto nas prioridades das grandes potências e dos países como um todo.
A exceção a isso foi a Encíclica Papal, que chamou a atenção para o problema do clima, mas mesmo ela teve um efeito passageiro: naquele momento se falou muito no assunto, mas logo depois voltou-se a omiti-lo na grande mídia e no debate político, que é o caso do Brasil, que hoje discute se a política econômica vai nessa direção em que está ou deve mudar, e as questões ligadas à corrupção — em particular na Petrobras e nas empreiteiras que tinham contratos fraudulentos. E o clima também, aqui no Brasil, não ocupa uma posição de destaque, apesar da importância da COP-21.
IHU On-Line – Alguns estimam que a COP-21 não formulará um acordo para substituir Kyoto, mas antes apresentará um panorama acerca de com quais metas os países aceitariam se comprometer. Qual a sua expectativa em relação a um possível acordo? Essa tende a ser mais uma conferência em que não se chegará a um acordo? O que fará a COP-21 ser bem-sucedida?
Luiz Pinguelli Rosa – Acredito que o objetivo é o acordo. Pode não se chegar a ele, mas isso será muito ruim. Embora o papel de cada país seja o de apresentar metas próprias — como o Brasil já fez na Conferência Copenhague, na COP-15, quando se comprometeu em reduzir aproximadamente 36% das emissões no ano 2020. Mas isso não é o suficiente, é preciso um acordo mais profundo, de longo prazo e com metas dos principais emissores, que são, em primeiro lugar, os países industrializados, tendo à frente os Estados Unidos; em segundo lugar, um conjunto de países intermediários, tendo à frente a China, incluídos entre eles o Brasil também, além da Índia — mas a China é o principal emissor desse grupo. Enfim, faremos o possível, mas seria muito bom que se chegasse a um acordo válido para todos os países.
IHU On-Line – Quais deverão ser os pontos mais difíceis de negociação?
Luiz Pinguelli Rosa – Chegar a um acordo sobre o quanto será reduzido das emissões e quais são as políticas para uma economia viável. Nós fizemos um trabalho aqui, coordenado pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, do qual sou o secretário, e com participação principalmente da COP, mas também de várias representações de setores empresariais, sindicais, das Organizações Não Governamentais e de Universidades, em que demonstramos, com um modelo e cenários para o futuro, que é possível o crescimento econômico com geração de emprego junto com a redução das emissões dos gases de efeito estufa. Ou seja, uma economia verde para o Brasil.
Mas o problema não é o Brasil, é o mundo todo. Não há solução só para um país para esse problema, pelo menos no terreno da mitigação das emissões. É preciso que o mundo inteiro coparticipe dentro de uma política que evite um aumento de temperatura global muito grande, acima de 2ºC — já se considera isso difícil de acontecer —, mas que pelo menos fique não muito acima de 2ºC de aumento da temperatura global ao fim desse século.
IHU On-Line – Em que consiste essa proposta de Economia Verde para o Brasil?
Luiz Pinguelli Rosa – Medidas como: eficiência energética, utilização de energia eólica e solar, de hidroeletricidade, de biocombustíveis — especialmente do etanol e do bagaço da cana-de-açúcar — e redução do consumo de combustíveis fósseis, como os derivados de petróleo — gasolina, diesel, óleo, gás e carvão mineral —, que são os combustíveis fósseis responsáveis pela maior parte das emissões. O Brasil tem outro papel que é a redução do desmatamento, que está sendo bem-sucedida: houve uma redução significativa do desmatamento, principalmente na Amazônia.
IHU On-Line – Como vê os acordos bilaterais entre China e EUA para reduzir emissões?
Luiz Pinguelli Rosa – Acho ótimo que haja acordos bilaterais; não bastam, mas ajudam, particularmente entre os dois “cabeças de série” — Estados Unidos e China —, que são os maiores emissores do mundo.
IHU On-Line – O senhor já tem algum palpite ou informação acerca de quais serão as metas brasileiras para a COP-21?
Luiz Pinguelli Rosa – Não. Estamos cobrando isso do governo. Houve algumas reuniões, o Brasil está levando uma proposta semelhante ao que falei, de ter três níveis de compromisso: o primeiro para os países desenvolvidos, como já são os do anexo I da Convenção do Clima; um segundo grupo que inclui Índia, Brasil, China, países grandes e que têm certo desenvolvimento econômico e tecnológico; e um terceiro dos países menores, mais pobres e que não podem assumir compromissos muito fortes. Tentar, entretanto, ter compromissos nesses três níveis.
IHU On-Line – Com que tipo de metas o Brasil teria condições de se comprometer na COP-21? Elas dizem respeito a quais setores?
Luiz Pinguelli Rosa – Já está comprometido com as metas de Copenhague, o problema é a partir de 2020; até 2020 o Brasil já tem metas oficiais. E daí para frente é preciso, creio, usar algo do tipo desse projeto de Economia Verde que o Fórum, inclusive, apresentará, em uma reunião com a Ministra do Meio Ambiente [Izabella Teixeira] nas próximas semanas.
IHU On-Line – A crise atual está impactando ou deve impactar numa possível revisão das metas brasileiras?
Luiz Pinguelli Rosa – Está tendo, não na reversão das metas, mas sim na discussão sobre a questão do clima, porque essa crise acaba tomando toda a atenção do governo.
IHU On-Line – Quais os principais resultados da sua pesquisa sobre as possíveis consequências econômicas e sociais das mudanças climáticas para o futuro?
Luiz Pinguelli Rosa – A mudança climática tem efeito negativo para todos os países e o Brasil não escapa. Poderá ter grandes fenômenos climáticos, muito intensos, como alguns indícios que estejam ocorrendo, principalmente no Sul do Brasil, além de grandes inundações e grandes secas. A produção agrícola pode ser muito afetada, pois o Brasil é um grande celeiro de atividade agrícola e pecuária, e que poderá ser muito prejudicado com a mudança do clima.
IHU On-Line – Que medidas devem ser tomadas em setores específicos, como o de energia?
Luiz Pinguelli Rosa – O Brasil, no setor de energia, está no bom caminho até certo ponto, ou seja, nós usamos as energias renováveis mais do que qualquer outro país do mundo. Entretanto, recentemente, com o problema da hidroeletricidade, nós aumentamos muito a emissão de gases na geração elétrica, usando usinas termoelétricas que, aliás, são muitos ineficientes — as nossas em particular. E, também, no caso do combustível, porque houve uma redução do preço relativo da gasolina em relação ao etanol e acabou desorganizando a produção de cana-de-açúcar, do etanol e do bagaço, que também fizeram aumentar o consumo de gasolina na contramão da história, na contramão da redução das emissões, tanto no setor elétrico quanto no transporte. Isso, neste momento, tem sido muito ruim.
IHU On-Line – Recentemente o senhor fez uma apresentação no Senado acerca da sua pesquisa sobre possíveis medidas a serem tomadas para enfrentar as mudanças climáticas. Quais suas impressões sobre a receptividade política a esse debate?
Luiz Pinguelli Rosa – O Senado foi muito participativo. Havia muitas lideranças dos Senadores presentes e foi uma discussão bastante intensa. Para os Senadores presentes, o interesse foi grande, mas não sei como isso se dá no Senado, em particular na Câmara também, onde houve outro seminário muito pouco participativo, ao contrário do Senado.
IHU On-Line – Faltando poucos meses para a COP-21, qual deve ser o foco central dos países que irão participar da COP-21?
Luiz Pinguelli Rosa – A redução das emissões. Para isso, usando mais energia renovável, mais eficiência energética e usando menos combustível fóssil. (IHU On-Line/ #Envolverde)
* Por Patricia Fachin, do IHU On-Line.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Uma nova agenda de desenvolvimento sustentável

21/09/2015
Cerca de 150 líderes mundiais devem participar da Cúpula, que acontece na sede da ONU em Nova York, com o objetivo de adotar uma nova agenda de desenvolvimento sustentável.
SDS_Logo_Portuguese-1024x496
Mais de 150 líderes mundiais são esperados para participar na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, que acontece entre 25 e 27 de setembro na sede da ONU em Nova York, para adotar formalmente uma nova agenda de desenvolvimento sustentável. Esta agenda servirá como plataforma de ação da comunidade internacional e dos governos nacionais na promoção da prosperidade comum e do bem-estar para todos ao longo dos próximos 15 anos.
Em uma declaração emitida após o consenso alcançado pelos Estados-membros sobre o documento final da Cúpula, em 2 de agosto, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse: “[O acordo] abrange uma agenda universal, transformadora e integrada que anuncia um momento decisivo histórico para nosso mundo”.
“Esta é a Agenda do Povo, um plano de ação para acabar com a pobreza em todas as suas dimensões, de forma irreversível, em todos os lugares, não deixando ninguém para trás”, disse.
Acordada pelos 193 Estados-membros da ONU, a agenda proposta, intitulada “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, consiste de uma Declaração, 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas, uma seção sobre meios de implementação e uma renovada parceria mundial, além de um mecanismo para avaliação e acompanhamento.
A agenda é única em seu apelo por ação a todos os países – pobres, ricos e de renda média. Ela reconhece que acabar com a pobreza deve caminhar lado a lado com um plano que promova o crescimento econômico e responda a uma gama de necessidades sociais, incluindo educação, saúde, proteção social e oportunidades de trabalho, ao mesmo tempo em que aborda as mudanças climáticas e proteção ambiental. Ela também cobre questões como desigualdade, infraestrutura, energia, consumo, biodiversidade, oceanos e industrialização.
A nova agenda de desenvolvimento sustentável se enquadra no êxito do resultado da Conferência sobre o Financiamento para o Desenvolvimento, recentemente concluída em Adis Abeba (Etiópia). Espera-se que ela também afete positivamente as negociações sobre um novo acordo climático significativo e universal, que acontecerá em Paris (França), em dezembro deste ano.

Processo Intergovernamental rumo à Ação Global para as Pessoas e o Planeta

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que produziram o mais bem-sucedido movimento antipobreza da História, serve como um trampolim para a nova agenda de desenvolvimento sustentável que será adotada por líderes mundiais.
Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 – a Cúpula da Terra – no Rio de Janeiro, o mundo identificou um novo caminho para o bem-estar humano, o do desenvolvimento sustentável. O conceito de desenvolvimento sustentável, apresentado na Agenda 21, reconhece que o desenvolvimento econômico deve ser equilibrado com um crescimento que responda às necessidades das pessoas e proteja o meio ambiente.
A nova agenda de desenvolvimento sustentável baseia-se no resultado da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de 2002, da Cúpula de 2010 sobre os ODM, o resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável de 2012 (Rio+20) e os pontos de vista de pessoas em todo o mundo.
Reconhecendo os sucessos dos ODM, os países concordaram sobre “O futuro que Queremos” – o documento final do Rio+20 – para estabelecer um grupo de trabalho aberto para elaborar um conjunto de metas de desenvolvimento sustentável para consideração e ação apropriada. Depois de mais de um ano de deliberações consultivas abrangentes e intensivas, o Grupo de Trabalho Aberto propôs 17 objetivos específicos com 169 metas associadas.
As negociações intergovernamentais sobre a composição das metas durou mais de dois anos e incluiu numerosas contribuições da sociedade civil e outras partes interessadas. As consultas inclusivas e transparentes levaram ao alcance de um consenso em 2 de agosto do documento final para a nova agenda de desenvolvimento sustentável.
A nova agenda será oficialmente adotada pelos líderes mundiais na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, que acontece nos dias 25, 26 e 27 de setembro de 2015.
Acesse aqui a página especial sobre este assunto.
grid-global-goals-header-1024x214
(ONU Brasil/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site ONU Brasil.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

ONU premia indígenas brasileiros por proteção ao meio ambiente


Várias comunidades indígenas da América Latina figuram entre os ganhadores do prêmio Equator 2015, segundo anunciou nesta segunda-feira a ONU, que distingue com este prêmio iniciativas cidadãs para reduzir a pobreza, proteger o meio ambiente e conter os efeitos da mudança climática.
Entre os ganhadores figuram grupos da Colômbia, Bolívia, Brasil, Belize e Honduras, que receberão um prêmio de US$ 10 mil e que poderão enviar representantes a uma reunião comunitária que será realizada durante a cúpula sobre mudança climática de Paris em dezembro.
"Os ganhadores deste prêmio Equator são um pequeno grupo de projetos e iniciativas inspiradoras ao redor do mundo. São um pequeno exemplo da grande quantidade de iniciativas que estão dando certo", disse em entrevista coletiva o responsável de Mudança Climática das Nações Unidas, Christiana Figueres.
No anúncio dos 21 premiados participou também, entre outros, o ator americano Alec Baldwin, que colabora habitualmente com a ONU em distintas iniciativas.
Os dois premiados do Brasil são o Instituto Raoni, uma organização fundada pelo povo indígena Kayapó que protegeu 2,5 milhões de hectares de floresta utilizando inovadoras campanhas.
Junto a ele, foi agraciado o Movimento Ipereg Ayu do povo Munduruku que bloqueou a construção de uma represa que teria submergido seus territórios.
Na Colômbia, a organização reconheceu o trabalho do povo Inga ao recuperar 22.283 hectares de território no qual durante décadas operaram guerrilhas, paramilitares e narcotraficantes, pondo em perigo o meio ambiente.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que entrega os prêmios, destacou que 17,5 mil desses hectares foram protegidos como lugar "sagrado".
Baldwin, na mesma entrevista coletiva, quis transmitir suas "mais sinceras felicitações ao povo Inga" por sua luta.
"As florestas e a fauna são protegidos, as paisagens administrados para dar segurança de alimento e água, se achem postos de trabalho e se reforça à comunidade local", destacou a administradora do Pnud, Helen Clark.
Entre os ganhadores, 21 no total, figuram também iniciativas em países como China, Afeganistão, a República Democrática do Congo ou Indonésia.

http://noticias.terra.com.br/ciencia/onu-premia-indigenas-brasileiros-por-protecao-ao-meio-ambiente,8459c236365ffe4eea441de38cdf9e4e1eo0qfwl.html

Aposentado cuida do meio ambiente plantando árvores no Paraná

(Foto: Getty Images)(Foto: Getty Images)
 
Na data em que se comemora o Dia da Árvore, neste 21 de abril, um aposentado de Paranavaí, município do noroeste do Paraná, dá exemplo de conscientização e cuidado com o meio ambiente. Desde 2001, Osvaldo Oliveira coleciona árvores e já tem cerca 700 exemplares de 106 espécies diferentes.

Ele conta que é eletrotécnico e durante o tempo em que trabalhou para a concessionária de energia elétrica do estado, na inspeção de linhas de transmissão, viu diversas áreas de florestas e nascentes de água serem extintas, ou pela especulação imobiliária ou pelas plantações de cana. “Fico indignado com a maneira com que as pessoas tratam o meio ambiente. E fiquei pensando: tenho que fazer alguma coisa. Já que todo mundo corta, então vou fazer o contrário: vou plantar”.

A chácara Recanto Peroba Rosa tem 5 mil metros quadrados e para irrigar o bosque, Osvaldo fez uma parceria com a empresa instalada no sítio vizinho, de captação da água da chuva. Toda a água que atinge o pátio da empresa é direcionada a valetas cavadas entre as árvores.

“Aprendi que o que faz com que o ar se torne mais fresco é água, e a única coisa que segura água no ar de forma natural é árvore. Então, se as pessoas querem um ambiente mais úmido, com mais qualidade de vida, têm que plantar árvores”, disse.

Osvaldo conta ainda que sempre mantém mudas para doar a pessoas que o procuram e que é possível entrar em contato pela página da chácara no Facebook. “Meu interesse é estimular o debate sobre o assunto, fazer com que as pessoas gostem da ideia e também plantem árvores, melhorando a qualidade do meio ambiente”, disse.

Apesar de exemplos como o de Osvaldo, pesquisa recente conduzida pela Universidade de Yale, em Connecticut, nos Estados Unidos, mostrou que o número total de árvores no planeta caiu 46% desde o princípio da civilização. O estudo indica que há mais de 3 trilhões de árvores em todo o mundo.

Pesquisadores de 15 países colaboraram com o estudo, que foi publicado na revista Nature.

As maiores densidades foram encontradas nas florestas boreais, onde estão 24% das árvores do planeta, como as regiões subárticas: Rússia, Escandinávia e América do Norte. Mas as maiores áreas florestais, segundo o estudo, ficam nos trópicos, com 43% das árvores. Mais 22% estão em zonas temperadas.

Os pesquisadores descobriram que o clima pode ajudar a prever a densidade de árvores na maioria dos biomas. De acordo com o levantamento, nas zonas mais úmidas, por exemplo, mais árvores são capazes de crescer. No entanto, os efeitos positivos da umidade foram invertidos em algumas regiões, porque as pessoas normalmente preferem as áreas úmidas para se instalar porque são produtivas para a agricultura.

O estudo mostrou também que a densidade de árvores geralmente cai com o aumento da população e que o desmatamento, as mudanças no uso da terra e o manejo florestal são responsáveis por uma perda de mais de 15 bilhões de árvores a cada ano.

https://br.noticias.yahoo.com/aposentado-cuida-do-meio-ambiente-plantando-%C3%A1rvores-no-paran%C3%A1-104903769.html

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Cultura oferece mais três oficinas para tirar dúvidas sobre o FAC



Objetivo é esclarecer mudanças do edital deste ano. Ações serão em São Sebastião, Sobradinho e Plano Piloto
Gustavo Marcondes, da Agência Brasília
14 de Setembro de 2015 - 10:52 

De acordo com a política de promover amplo debate com a comunidade, a Secretaria de Cultura oferece, nesta semana, mais três oficinas de orientação para quem deseja concorrer no primeiro edital de 2015 do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Agentes culturais e demais interessados terão a oportunidade de tirar dúvidas em encontros com a própria equipe que julga os projetos no FAC.
As oficinas, idealizadas pela Subsecretaria de Fomento e Incentivo, da Secretaria de Cultura, ocorrerão em São Sebastião, na terça-feira (15); em Sobradinho, na quinta-feira (17); e no Plano Piloto, no sábado (19). A duas primeiras começam às 19 horas e vão até as 21h30. A última será pela manhã, das 9 às 13 horas. Outras três já foram promovidas na semana passada, no Plano, em Samambaia e em Taguatinga.
“Nosso objetivo é difundir o novo edital do FAC”, explica o subsecretário de Fomento e Incentivo, Thiago Rocha: “Apesar de mais simplificado, ele traz mudanças significativas em relação aos editais passados, e nós queremos diminuir ao máximo as inabilitações por falta de documentação ou por erro de inscrição”.

Diálogo
As alterações foram definidas após uma série de encontros do governo com a comunidade. O FAC foi abordado nas 24 edições do projeto Diálogos Culturais, que reuniu mais de mil pessoas das 31 regiões administrativas. A minuta do decreto que instituiu as novas regras ainda ficou disponível à população na internet antes de ele ser assinado pelo governador Rodrigo Rollemberg e pelo secretário de Cultura, Guilherme Reis, no fim de julho.
“Analisamos centenas de sugestões antes de chegar ao texto final”, informa Thiago Rocha. “Tentamos excluir as questões que incomodavam os agentes culturais e as que acabavam resultando em muitas exclusões do processo seletivo”, explica o subsecretário, que vê uma boa receptividade da sociedade às mudanças.
Entre as principais alterações, estão algumas antigas demandas da comunidade cultural de Brasília, tais como: a divisão do edital por linguagens; o fim da obrigatoriedade das contrapartidas e de apresentação de três orçamentos; a permissão para pagamentos por meio de operações bancárias; o fim da pontuação por local de residência; a inclusão das categorias artesanato, design e moda e projetos livres; a valorização de projetos de pesquisa e formação; e a possibilidade de escolha do candidato caso dois projetos sejam contemplados.

Blocos
A expectativa é que o edital contemple 370 projetos. O valor do primeiro bloco é de R$ 33,67 milhões, divididos entre: artes plásticas, visuais e fotografia; artesanato; cultura popular e manifestações tradicionais; dança; design e moda; literatura, livros e leitura; manifestações circenses; música; ópera e musicais; e patrimônio histórico e artístico material e imaterial. O edital abrange também propostas que mesclam duas ou mais categorias, desde que o artista informe qual a linguagem predominante.
As propostas deverão ser enviadas, com toda a documentação exigida, até as 23h59 de 4 de outubro por meio de sistema eletrônico. O endereço para acesso estará disponível no site da Secretaria de Cultura.
O segundo bloco distribuirá cerca de R$ 20 milhões entre projetos audiovisuais e de ações que englobem políticas públicas e regionalização. O edital deve ser lançado em 30 dias.
Para concorrer ao benefício financeiro oferecido pelo fundo, é preciso ter cadastro de ente e agente cultural, morar em Brasília há pelo menos dois anos e comprovar atividade artística ou cultural por meio de portfólio.

Oficinas sobre o Edital 1/2015 do FAC
São Sebastião
15 de setembro (terça-feira)
Das 19 horas às 21h30
Casa Frida, Rua 30, Casa 121, Vila Nova

Sobradinho
17 de setembro (quinta)
Das 19 horas às 21h30
Administração Regional, Setor Administrativo, Bloco A, Quadra 12

Plano Piloto
19 de setembro (sábado)
Das 9 às 13 horas
BSB Criativa, Conic, perto do Teatro Dulcina

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Sair dos tigres de papel para salvar as águas?

11/09/2015

Fundo do Açude Carnaubal que abastecia a cidade de Crateús, no Ceará. Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil (05/03/2015)
Fundo do Açude Carnaubal que abastecia a cidade de Crateús, no Ceará. Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil (05/03/2015)

Por Washington Novaes *
É muito inquietante a leitura do relatório Governança dos Recursos Hídricos no Brasil, com 300 páginas, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), integrada por 34 países. Ao mesmo tempo que demonstra o potencial extraordinário desses recursos no País, o documento analisa a precariedade da aplicação das normas de regulação, conflitos entre várias instâncias reguladoras (federais, estaduais, municipais, 200 comitês de bacias) – às vezes até em trechos diferentes de rios –, a disputa dos recursos advindos da cobrança pelo uso, a baixa capacidade de execução desses meios e a limitada eficácia na implementação de normas e planos dos comitês de bacias hidrográficas. Tudo tão preocupante que o relatório chega a dizer que os planos não passam de “tigres de papel” ou de “promessas a serem cumpridas por outros”.
Então, é preciso mudar quase tudo, para que o País possa desfrutar de modo eficiente sua condição de detentor de quase 12% da água superficial do planeta, que até parece posta em dúvida pelo noticiário nos meios de comunicação, tantas são as crises de abastecimento, escassez, poluição, conflitos, etc. Se os textos descentralizados são resposta adequada à diversidade física e legal e às condições locais, por outro lado desafiam a necessidade de coordenação entre demandas diferenciadas, escassez ou abundância, poluição ou tratamento – além das diferenças entre setores econômicos (geração de energia elétrica, irrigação, indústria, abastecimento domiciliar).
As tentativas mais recentes e solução partiram, em 1997, da Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, a que se seguiu a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), em 2000. E já ficava clara a questão de saber qual a escala funcional adequada em cada questão concreta. Ao contrário da gestão centralizada e tecnocrática do regime militar, partia-se para uma “governança multinível, integrada e localizada dos recursos hídricos”. Mas com muitos problemas, segundo o relatório.
O primeiro deles está em que os planos de recursos hídricos em níveis nacional, estadual, local e de bacia “são mal coordenados e não chegam a ser colocados em prática, por falta de financiamento ou limitada capacidade de acompanhamento e execução”; não estabelecem prioridades ou critérios claros para “definir os recursos disponíveis e orientar as decisões de alocação para o desenvolvimento de energia hidrelétrica, extensão da irrigação e uso doméstico, entre outros”.
Outra questão central é “a incompatibilidade entre as fronteiras administrativas municipais, estadual e federais”, que levanta o problema da escala adequada. Por exemplo: quem define as normas de qualidade da água e regras de captação onde dois ou mais órgãos de gestão dos recursos hídricos são responsáveis por trechos diferentes de um mesmo rio?
Terceira: cobranças pelo uso da água (onde existem) são baixas e raramente se baseiam em estudos de acessibilidade ou em avaliação do impacto. Além disso, os comitês de bacias têm “fortes poderes deliberativos”, mas “limitada capacidade de implementação”.
Apesar da linguagem cautelosa, o diagnóstico aponta para um quadro estarrecedor, acentuado pela crise mais recente no setor, que “lançou um holofote político sobre desafios mais estruturais”, em hora de previsões sobre crescimento populacional e econômico, além de mudanças climáticas. Será indispensável que o Plano Nacional de Segurança Hídrica e o Plano Plurianual, previstos para 2016, mudem o quadro, com encontro entre as várias políticas e instâncias. E para isso o relatório faz recomendações e propõe um plano de ação.
Entre as propostas e recomendações estão: pôr os recursos hídricos como prioridade estratégica, “com benefícios econômicos, sociais e ambientais mais amplos”; fortalecer o poder e efetividade dos conselhos nacional e estaduais de recursos hídricos, “para orientar as decisões de mais alto nível”; fortalecer “a efetividade das instituições em nível de bacia” a adoção de mecanismos de preços, incluindo – o que é de extrema importância – cobranças pelo uso da água.
Há muitos outros ângulos decisivos na análise, entre eles o de que “o Conselho Nacional de Recursos Hídricos não tem desempenhado plenamente o seu papel de coordenação intersetorial”, assim como o de que “o nível de representação dos ministérios não é suficiente, o que enfraquece sua influência no processo de tomada decisões e nas orientações estratégicas”. Como avançar, então?
A imagem de “abundância de água no Brasil gera uma lacuna de conscientização que dificulta enfrentar as questões prementes”. De fato, a vazão média nacional de água chega a 180 mil metros cúbicos por segundo, de acordo com a ANA. E a retirada total de água a apenas 0,9% do volume total disponível, ou 2.373 m3/segundo em 2010, mas que cresceu 30% nos últimos cinco anos. Cerca de 50% da água captada não volta para os rios. A agricultura capta 54% do total, o abastecimento humano 25% e a indústria 17%. As perdas na distribuição urbana da água chegaram a 36,9% em 2012. E o consumo doméstico médio de água per capita era de 167,5 litros/dia, variando conforme as regiões. Só 48% dos esgotos domésticos eram coletados e 39%, tratados.
A água, conclui o relatório, “tornou-se um fator limitante para o desenvolvimento econômico, políticas de saúde pública e bem-estar no Brasil”. Se não sairmos desse emaranhado que o relatório mostra, continuaremos navegando nesse mar de “tigres de papel”.
Duas correções – No artigo de 21/8, onde escrevi que a emissão da agropecuária no Brasil era de 1,56 bilhão de toneladas, esse total era da emissão total do País. No artigo de 4/9, onde está a menção de um PIB de R$ 5,68 bilhões em 2030, o correto é R$ 5,52 trilhões. Agradeço aos leitores Mark Zulauf e Antônio Paulo B. Coutinho. (O Estado de S. Paulo)
* Washington Novaes é jornalista (e-mail: wlrnovaes@uol.com.br).
** Publicado originalmente no site O Estado de S. Paulo.

Dia do Cerrado - 11 de setembro - chuveirinho


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

"Devemos deixar tudo e nos concentrar na água"

O “homem da água da Índia”, Rajendra Singh, esteve por 35 anos recuperando massas de água e levando-a a diferentes povoados em diferentes partes do território indiano. Foto: Stella Paul/IPS
O “homem da água da Índia”, Rajendra Singh, esteve por 35 anos recuperando massas de água e levando-a a diferentes povoados em diferentes partes do território indiano. Foto: Stella Paul/IPS

Por Stella Paul, da IPS –

Estocolmo, Suécia, 10/9/2015 – No mundo há mais de 748 milhões de pessoas sem água potável, o equivalente a mais do que o dobro da população dos Estados Unidos. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que 1,8 bilhão de pessoas, ou seja, 500 milhões a mais do que a população da China, bebem água contaminada com matéria fecal. E morrem dois milhões de pessoas por ano por falta de acesso a água.
Segundo o último informe Desenvolvimento dos Recursos Hídricos no Mundo 2015: Água Para um Mundo Sustentável, a demanda poderia crescer 55% até 2050, devido, principalmente, ao setor manufatureiro. Em um contexto em que a comunidade internacional passa do marco de erradicação da pobreza, contemplado nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), para uma agenda de desenvolvimento sustentável mais ambiciosa, a questão da água se torna mais crucial do que nunca.
Entre o barulho das autoridades perdidas em debates intermináveis e o grande número de pessoas que sofrem secas, têm sede e padecem doenças transmitidas pela água contaminada, há fontes que dizem que cerca de cinco mil meninos e meninas morrem diariamente por essa causa, e que algumas vezes conseguem se fazer ouvir lançando luz a um dos problemas mais complexos e urgentes do mundo.
Uma delas é Rajendra Singh, ganhador do Prêmio da Água de Estocolmo, também conhecido como Prêmio Nobel da Água, por seus 35 anos de compromisso com a conservação e a gestão do recurso. Singh foi apelidado de “o homem da água da Índia” e lhe é atribuída a recuperação de uma ancestral técnica para coletar a água da chuva, que deu nova vida a vários rios e levou água limpa aos encanamentos de 1.200 povoados de seu Estado natal de Rajasthan, no nordeste indiano.
Com seus caudalosos rios e seus inumeráveis tributários, que constituem um dos sistemas de água doce mais complexos do mundo, a Índia oferece um excelente estudo de caso em matéria de gestão hídrica. Aproximadamente 150 milhões de pessoas nesse país de 1,2 bilhão de habitantes vivem sem acesso a água potável, o que agrava a pobreza e apresenta sérias questões em matéria de energia, degradação ambiental e desenvolvimento sustentável.
Por ocasião da Semana Mundial da Água 2015 (de 23 a 28 de agosto), em Estocolmo, a IPS conversou com Singh sobre o futuro desse recurso escasso e incrivelmente apreciado.
IPS: O senhor sempre diz “não precisamos de novas políticas, mas de ação para a água”. A que se refere?
RAJENDRA SINGH: Na Índia não faltam políticas nem ações, há muitas leis sobre conservação, uso e gestão do recurso. Mas essas políticas e ações não são executadas de forma adequada, e por isso não há medidas concretas. Precisamos realizar trabalhos descentralizados claros sobre a gestão hídrica com um enfoque comunitário. E o trabalho do governo nesse tipo de gestão é muito importante: oferecer recursos adequados às comunidades e criar um ambiente que facilite a ação. Deve haver ações conjuntas entre governo e comunidade para administrar o recurso. Necessitamos de quatro coisas para isso: conhecimentos sobre a água, a conservação, a gestão e o uso eficiente do recurso.
IPS: O senhor disse que o governo deve criar um ambiente propício e fornecer os recursos para a ação. Costuma-se associar “recursos” com “dinheiro”, que procede do setor privado. Como responde a isso?
RS: A mudança nunca procede do setor privado. Para uma mudança verdadeira, precisamos do governo e da comunidade. Se o setor corporativo faz tudo, então, onde está a democracia? Em Rajasthan temos muitas empresas, mas também temos um parlamento da água. Mantemos os direitos comunitários ali. Conservamos um ambiente democrático. As pessoas se mobilizam. Quando a sociedade de mobiliza, os que a roubam têm de fugir. As corporações estão aqui para ficar, mas é importante que não saqueiem as pessoas e não contaminem o sistema.
IPS: Entramos na era dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em matéria de água, o que o governo deve fazer de diferente em relação ao que fez na vigência dos ODM?
RS: Vida, fonte de renda e dignidade, os três estão vinculados à água. Na época dos ODS devemos dar a maior prioridade à água. Devemos deixar tudo por um momento e só nos concentrarmos nela. Não devemos enveredar em projetos, indicadores e no enfoque de marco lógico, mas nos mantermos concentrados no trabalho atual. Há uma enorme invasão sobre os corpos de água. Para evitar isso devemos identificá-los, demarcá-los e notificar tudo. Em muitos casos, devido à erosão, a água tem muito sedimento, e como não possui um título claro, o lobby imobiliário avança sobre as massas de água. A intrusão sobre o rio é um problema que existe na Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e outras regiões. A pobreza na região (da Ásia) é o resultado de uma crise hídrica, porque se altera os direitos das pessoas. Se os respeitarmos, poderemos conseguir que a região inteira tenha um acesso adequado ao recurso. Por exemplo, a Lei Nacional de Garantia de Emprego Rural (de 2005) foi concebida para reviver e redesenhar o sistema hídrico do país. O então ministro da Agricultura, Raghunath Singh, nos visitou, viu meu trabalho e decidiu desenhar um programa dentro do qual foi possível tomar medidas a respeito.
IPS: O senhor participou da junta da Missão Limpemos o Ganges (o terceiro rio mais comprido da Índia). Poderá ser recuperado algum dia?
RS: É difícil, mas não impossível. Porém, o governo só se relaciona com engenheiros, técnicos, etc., não com filhos e filhas do Ganges, as pessoas. Se realmente incorporar as pessoas na missão, demorará no máximo dez anos para recuperá-lo. De fato, qualquer dos rios do país pode se recuperado em dez a quinze anos. Necessitamos da vontade política do governo e da participação das pessoas comuns. Sou uma fonte de esperança. Nunca a perco. Recupero o que foi danificado, essa é minha filosofia de vida. Envolverde/IPS

http://www.envolverde.com.br/opiniao/devemos-deixar-tudo-e-nos-concentrar-na-agua/