quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Marcos Freitas: como água pela terra



(Prefácio do livro Inquietudes de Horas e Flores, de Marcos Freitas, a ser lançado na 21ª edição do Sarau Videoliteromusical Poemação)

O que mais impacta na poesia de Marcos Freitas é a harmonia e sensibilidade com as quais entrelaça assuntos cotidianos com paixões, mantendo o tom de inocência e humor, e conseguindo ser leve e profundo ao mesmo tempo. Acaso, porque a água é o elemento com que o poeta trabalha - seus conhecimentos sobre Hidrologia são bem testemunhados na área científica e profissional -, assim como a água o poeta se desliza com elegância e força pela vida e relacionamentos, por entre os vales da tristeza e as alegrias infantis, entre o fogo do erotismo e as normas da sociedade. Há também um olhar crítico, como no poema pseudo-irônico Alfabetização, sobre o sistema educativo: alfabetizou-se pelo MOBRAL/teve assistência do Projeto Rondon.... Apesar dos acidentes do caminho, como a água sua escrita é certeira, reflexo desse movimento interior, calmo e compensado, de equilibrista.

Como em muitas das vanguardas poéticas, consta nele a preocupação sobre a forma como continente insuficiente. O poeta é consciente das limitações da palavra e de suas batalhas de fronteira com o silêncio: pudesse eu compreender/o poder da palavra,/da fala,/mesmo quando esta/ao fim se cala.

Igualmente encontramos referências a outras leituras e autores em forma de intertextualidades, como no caso de Calderón de la Barca: uns dizem que os sonhos devem ser vividos/outros que eles devem ser divididos/já outro que sonhos sonhos são. A filosofia combina bem com a dúvida criativa: quase nunca/quis saber bem/como de fato você é...quase nunca/sei o que você é./quase nunca/sei o que nós somos.

Há em muitos momentos referências à infância, sem cair na brandura excessiva, renovando as visões, a linguagem, as lembranças. Tem os olhos de um menino sábio, quando se vê no foto taboca, quando come cocada (quebra-queixo), quando o cheiro do coco queimado traz memórias, quando brinca de imaginar lugares míticos em paisagens reais (Sete Cidades).

A magia coabita sem contradições. Vai pelo urbano e pelo mato, pelo interior e pela modernidade, sem trocar de sapato. E não precisa, porque suas palavras se adaptam ao contexto com originalidade. São às vezes meditações sobre a realidade, sem pretender mudá-la, outras vezes, são observações detidas no tempo, procurando o eterno atemporal que reside nos objetos e nas cenas, e até são brincadeiras verbais com duplo sentido.

Enfim, ler Marcos Freitas é entrar na reflexão sobre a realidade mais próxima, de viagem para dentro, e é estar na realidade com consciência de observador atento, sabendo que através dos olhos, como da palavra, estamos mostrando nosso coração.

Alicia Silvestre
Poeta, professora universitária e tradutora.

Lo que el poeta siente



(Posfácio do livro Inquietudes de Horas e Flores, de Marcos Freitas, a ser lançado na 21ª edição do Sarau Videoliteromusical Poemação)

¿Será que eso solamente le importa a quien escribe? ¿Será que nadie acude a la percepción poética del autor? ¿A sus versos inflamados, pasionales, libres?
Me preguntaba esto mientras leía la versión castellana de los poemas de Marcos Freitas, quien presenta un trabajo de alta jerarquía en versos simples y graves.

Es precisamente él mismo, quien se cuestiona: “casi nunca/sé lo que eres./casi nunca/sé lo que somos”, abriendo paso a una perceptible duda existencial, que además se nutre también de su propia juventud ansiosa y cuestionadora: “Entender de la palabra apenas una faz secreta…hasta cuando al fin calla” Es el secreto a voces que el poeta intenta revelar, muchas veces maldiciendo su suerte, pero tratando siempre de golpear donde más duele y de alguna forma llegar a alguien. Porque sin ese alguien no existe la posibilidad de que la poesía exista. Generalmente nos cuestionan a los poetas la oscuridad de nuestros textos y sobre esto se ha dicho tanto y con tanta frecuencia, que es casi redundante aclarar que la palabra poética nace en un sitio diferente, no se puede leer como una carta. La palabra poética se escurre entre los sueños, al decir del poeta: “unos dicen que los sueños deben ser vividos/otros que deben ser divididos/otro que los sueños, sueños son” –en versos de Calderón de la Barca- ¿Qué es la vida? Un frenesí. ¿Qué es la vida? Una ilusión, una sombra, una ficción, y el mayor bien es pequeño…

Sin embargo la concepción de Marcos sobre el poeta se sintetiza en una definición bien elocuente, cuando dice: “El poeta es un cretino/que ama sin destino”. Si vamos a la definición etimológica de Wikipedia, por ejemplo, un cretino es una persona de poca inteligencia o estúpida. ¿Podemos creer realmente que Freitas se considera a sí mismo y a sus congéneres, cretinos y por otra parte, que aman sin destino? Podría ser si se lee por ejemplo el poema Cuadro, en que el poeta quisiera describir a una mujer en colores, poniendo en lugar de sus senos trazos rápidos y que además adoraría borrar todo ese cuadro con un chorro de tinta. Pero sin embargo en su juego poético normaliza su verbo dejándonos saber que: “tu ausencia/ gran vacío/apenas/ramas de árboles/se balancean/frente a mi ventana”.

De todo ese valeroso enfrentamiento consigo mismo, con sus moléculas cerebrales y con sus células sensitivas, descubrimos un ser que sabe que la vida fluye, que el tiempo pasa, que desconoce quién los va a medir o a apagar (terminar), que desconoce además si va a salir ileso del batir del corazón de su amada y que intenta reciclarse a tiempo, usando sus poemas: “mis versos: cartones sucios de envoltorios viejos/mis rimas: latas de cervezas aplastadas con los pies.”

En definitiva son Inquietudes de horas y flores en tinta de un poeta joven, que desde un cerrado de concreto, respirando un clima árido, pinta con sangre los precipicios de sus actos y sabe muy bien el sabor de sus momentos, mientras roe ruidosamente sus líneas inéditas.

Roberto Bianchi, Uruguay.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

POEMAÇÃO VINTE UM - Uma Homenagem ao Poeta Francisco Alvim



A Biblioteca Nacional de Brasília Leonel de Moura Brizola abre suas portas para o Vigésimo Primeiro POEMAÇÃO privilegiando mais uma vez a poesia brasiliense.

O Poemação 21 faz uma homenagem ao poeta Francisco Soares Alvim Neto, ou simplesmente Chico Alvim: nascido em Araxá, Minas Gerais, 1938, poeta e diplomata, publicou em Brasília seu primeiro livro de poesias, Sol dos Cegos, em 1968. Integrou o Grupo Frenesi, com Cacaso, Chacal, Geraldo Carneiro e Roberto Schwarz. Sua poesia é de filiação modernista, oswaldiana, possui os traços marcantes no trabalho dos chamados poetas marginais.
Alvim ganhou o prêmio Jabuti de Poesia, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, em 1982, por Passatempo e Outras Poesias, e em 1989 por Poesias Reunidas: 1968-1988. Sua obra mais recente é Elefante, de 2000.

Sandra Fayad: poeta, economista, ecologista, é autora do livro "Animais que Plantam Gente" traz dois pré-lançamentos no XXI Poemação, dois livros de poesia, pela Editora Art Letras, ambos ilustrados por seu neto, Thiago, e revisados pela sua filha, Tatiana: “Cerrado Capital – A Vida Em Duas Estações”, que descreve o clima e a paisagem no Planalto Central; e “Poemas Síntipos”, obra que contempla a atividade poética no formato criado pelo poeta português Fernando Oliveira (Ferool), onde a estrutura é constante e inédita e a rima é, preferencialmente, rica. Sandra é goiana-catalana, descendente de sírios-libaneses e candanga de coração. Mora em Brasília desde 1967. Escreve poesias desde os doze anos de idade.

Marcos Freitas: nasceu em Teresina, Piauí, em 1963. Engenheiro civil, poeta, contista e letrista faz o lançamento do livro "Inquietudes de Horas y Flores" (2011). Edição bilíngue (português-espanhol) de poemas selecionados de Marcos Freitas, traduzidos ao espanhol por Carlos Saiz, com apoio do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC).
Tem mais de 60 artigos publicados em revistas e anais de congressos nacionais e internacionais. Participou de várias antologias, possui nove livros editados culminando em “Urdidura de Sonhos e Assombros”, de 2010, uma coletânea de seus poemas.

Marcelo Torres: escritor, jornalista, servidor público, nasceu na Bahia e mora em Brasília desde 2002. Publicou “O Fuxico” (contos e crônicas) e “O bê a bá de Brasília – dicionário de coisas e palavras da capital” lançado em junho passado.

Menezes y Morais: A íris do olho da noite (Editora Thesaurus), romance lançado em agosto no restaurante Carpe Diem é o novo livro de José Menezes de Morais. Poeta, jornalista e professor, diz que a ficção o consome durante várias estações. “Passo de dois a quatro anos em processo de gestação. Quando não tem mais como correr daquilo, faço um espelho dos personagens, me sento diante do computador e só Deus sabe”. Está em Brasília desde 1980. Nasceu e viveu a infância em Altos, Piauí. Sua estréia literária foi em 1975 com “Laranja partida ao meio”, com dez livros lançados.

Isis Albuquerque: natural de Santos-SP. Presidente do Instituto de Artes Afro-Brasileiro Professora Zilda Dias com formação em Teologia, iniciou-se no ramo das artes ainda na infância. Cria suas obras inspirada em seus antepassados, cultua suas raízes e se sente um pouco cabocla, gosta da natureza e do respeito a todos os seres viventes na condição de cada um. Ecologista nata, ama o oculto e o mistério.

Lucia Viana: atriz, maranhense, nos apresenta o espetáculo de “Quilombagem”, nascido no Maranhão após o lançamento da carta do Plano de Erradicação do Trabalho Escravo, realizado pelo Governo do Estado, em 2007. Depois de apresentações nas cidades de Imperatriz e São Luiz do Maranhão “Quilombagem” ganhou repercussão internacional. O espetáculo foi exibido nas cidades de Madrid, Barcelona, Sevilla, Santiago, Gijón, Mieres, Oviedo e Lugo.

João Roberto Costa: o Joãozinho da Vila é poeta “Eu escrevo porque é a maneira de me sentir em sintonia com as pessoas que estão próximas ou distantes da minha visão de universo, procuro ser o mais simples possível para que todos entendam e não fiquem dúvidas desnecessárias. Minha influencia é a poesia NATIVA, a poesia que nasceu em Brasília e aqui vem lutando para continuar viva e nativa”. Autor de “50 anos – Obras Completas em Apenas um Volume”.

José Santiago Naud: nasceu a 24 de julho de 1930, na cidade de Santiago, RS, Brasil. Poeta e ensaísta. Formado em Letras Clássicas, em Porto Alegre, foi diretor do Instituto do Livro; professor pioneiro do nível médio e fundador da Universidade de Brasília (UnB), em 1962. Lecionou literatura luso-brasileira em Yale e na UCLA; pronunciou conferências sobre cultura em outras universidades norte-americanas e européias. De 1973 a 1985, contratado pelo Itamarati (MRE), foi Diretor do Centro de Estudos Brasileiros, sucessivamente em La Paz (Bolívia), Rosário (Rep. Argentina), Panamá e México. Publicou vinte e um livros, dentre eles: Noite Elementar (Porto Alegre, 1958); Hinos Cotidianos (Rio de Janeiro, 1960); A Geometria das Águas (Porto Alegre, 1963); Conhecimento a Oeste (Lisboa, 1974); Promontorio Milenario (Panamá, 1983); Pedra Azteca (México, 1985); As colunas do templo (Brasília, 1989), O olho reverso (1993), Memórias de signos (Porto Alegre, 1993), O avesso do espelho (1996), Antologia Pessoal (Brasília: Thesaurus, 2001). Lança na ocasião o livro Fábrica de Ritos (Brasília: Thesaurus, 2011).

A música fica a cargo de Daniel Kirjner sociólogo, ator, roqueiro e compositor. Integrante da banda Metrópole Locomotiva e mestre pela UnB, com dissertação sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, nos apresenta um pouco desse trabalho. Ao final a plateia mostra o talento em Poesia na Plateia. Sorteio de livros para a plateia. O Poemação é realizado todas as primeiras terças do mês no auditório da Biblioteca Nacional de Brasília, sob a coordenação dos poetas Jorge Amâncio e Marcos Freitas.

POEMAÇÃO 21
Homenagem ao Poeta Francisco Alvim
participantes
Menezes y Morais, Isis Albuquerque, João Roberto Costa, Sandra Fayad , Lucia Viana, Marcelo Torres, Marcos Freitas, José Santiago Naud e Daniel Kirjner.

LOCAL: Auditório da Biblioteca Nacional (2º Andar)
Data: 06 de setembro de 2011
Horário: das 19h00min às 21h00min
Entrada Franca

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

GOVERNAR É ...


governar é abrir estradas
governar é construir postos de saúde
governar é apoiar a marcha das margaridas
governar é preservar as florestas e os rios
governar é faxinar os ministérios
governar é ser solidário com os movimentos sociais
governar é não aceitar nenhuma corrupção
governar é fazer a reforma agrária
governar é investir pesado em educação
governar, de fato, não é alocar pessoas para resolver certos assuntos, dos quais eles não têm a menor noção

marcos freitas

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Menezes y Morais lança novo livro: um romance ambientado na capital federal


Felipe Moraes
Publicação: 18/08/2011 09:39 Atualização:

O escritor detalha o livro A íris do olho da noite: personagens reais e também com a cara de Brasília

Desde adolescente, Menezes y Morais senta-se em frente à mesa de trabalho e só sai dali quando consegue se libertar dos pensamentos que antes ocupavam a sua mente. Quando firma os pés no chão e levanta-se da cadeira, é inevitável, ele reclama de dor, as costas estão moídas. Sua mãe, Isabel Menezes de Morais, costumava gritar para ele: “Vem comer, meu filho!”. Hoje, não é mais assim. Mas a produção ainda é obstinada, esfomeada: de 20 livros inéditos, já publicou 11. O mais recente é o romance A íris do olho da noite (Thesaurus), que ele lança hoje, às 19h, no restaurante Carpe Diem. Mais chegado à poesia, Morais diz que a ficção o consome durante várias estações. “Passo de dois a quatro anos em processo de gestação. Quando não tem mais como correr daquilo, faço um espelho dos personagens, me sento diante do computador e só Deus sabe”, explica.

Dos nove volumes restantes, ele ainda guarda um romance, uma novela, um livro de contos, um de ensaios de história e uma coletânea de entrevistas (com Cora Coralina, Jorge Amado e outros autores). O resto é poesia. “Me considero essencialmente poeta. Mas isso não quer dizer que, aqui, eu seja um poeta de férias escrevendo um livro. São métodos diferentes”, delineia. No caso de A íris, o processo começou ainda no século passado e só terminou em 2006. De lá para cá, veio “apertando parafusos, melhorando a linguagem”.

O cuidado do escritor, natural de Altos, no Piauí, foi em criar uma escrita com a cara de Brasília. A história concentra conflitos e discussões em torno de um casal liberal: um economista e uma professora, formados na UnB, e pais de dois filhos pré-adolescentes. A malha narrativa, adianta Morais, não cede ao melodrama. “Não cai no sentimentalismo ou na tragédia. É um romance de ideias, psicológico, e com um pouco de história real”, classifica.

De carne e osso
Em meio aos conflitos, discussões e encontros, aparecem personagens reais da cidade: o poeta Cassiano Nunes e o compositor Renato Matos, por exemplo. Morais segue a trilha deixada por Dante Alighieri na Divina comédia. “Pessoas que Dante não gostava foram colocadas no purgatório ou no inferno”, diverte-se. “Essa técnica foi retomada por Balzac e Jorge Amado. Na minha visão, é uma sacudida no leitor. E faz com que ele pense: ‘É ficção ou realidade?’”, continua.

Formado em jornalismo, Morais aprendeu a amar a literatura por incentivo da mãe, que o alfabetizou com livros de cordel. Na rede instalada na varanda de casa, o menino gostava de se espreguiçar para trás e ficar de cabeça para baixo, enquanto ouvia as frases saindo da boca da mãe. Pai de seis filhos — um já falecido — e avô de três netos, ele vê a literatura local como madura e com identidade própria. “Temos muita gente produzindo coisas boas no teatro, na literatura, no cinema e na música. Brasília já tem uma dicção própria em todas essas áreas”, acredita. E trata a escrita como uma atividade ao mesmo tempo egoísta e generosa. “É um ato solitário e radicalmente solidário”, diz.

Leia trecho do livro A íris do olho da noite, de Menezes y Morais :

De sútibo, nos umbrais do tempo
Na primeira vez que o Homem acordou de súbito, a sensação de mal-estar foi ainda mais estranha. "Instalou-se a crise?", indagou, nos subterrâneos d'alma. Tudo era hiperesquisito: a Mulher, os filhos, a cumplicidade do quarto (não o apartamento como um todo), a vida lá fora e.. a Vizinha do lado!, cujo assédio lhe desafia a provação monogâmica e lhe infla o ego de ser humano desejado; mas ele não permitia que o assédio passasse de olhares, sorrisos, insinuações. Certa vez ela tocou a campainha do apartamento, vestida apenas "de shortinho apertadinho e curto", conforme o relato da Mulher, que abriu a porta e a atendeu. Desconcertada, a bela Vizinha perguntou pelo Homem, disse que apertara a campainha porque precisava de um roldo emprestado, para limpar o apartamento, o dela desapareceu na mudança. A Mulher contou isso para o Homem com ar de cizânia, porém aceitou os argumentos de defesa e acalmou-se. O pensamento do Homem focou-se nas contas atrasadas de água e condomínio, na alta do preço da sobrevivência diária, no patrão e no sistema que, sem mais nem menos, lhe tiram do sério. O que fazer? Especialmente o sistema, visto que o patrão pode ser apenas mais uma de suas vítimas, deixava o Homem num estado de nervos no qual se desconhecia.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2011/08/18/interna_diversao_arte,266028/menezes-y-morais-lanca-novo-livro-um-romance-ambientado-na-capital-federal.shtml

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Paulo César Pinheiro - CAPOEIRA DE BESOURO

Fala indignada de Negro à BBC Londres

Quem são as “bestas selvagens” inglesas?



Artigo
Quem são as “bestas selvagens” inglesas?

Com mais 2.300 prisões e mais de 1.200 processados por roubo ou violência, o desfile pelos tribunais não mostrou nenhuma “besta selvagem”. Ao invés disso, o perfil dos acusados surpreendeu os britânicos que tiveram que enterrar a primeira caracterização simplista – negros, afrocaribenhos, pobres e excluídos. Designers gráficos, estudantes universitários, professores, adolescentes, púberes, desempregados, marginais, um aspirante a entrar no exército, uma modelo: a variedade desafia qualquer estereótipo. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.
Marcelo Justo - Correspondente da Carta Maior em Londres

“Indignados” não são. Nenhum discurso articula o protesto, não existe uma lista mínima de demandas como ocorreu com as manifestações dos estudantes ingleses contra a triplicação do valor das matrículas universitárias no ano passado. Os distúrbios em Londres e outras cidades inglesas se parecem mais com os de Paris em 2005, ou os de Los Angeles em 1992. O primeiro ministro David Cameron e a poderosa imprensa conservadora não querem entrar em complexas reflexões sociológicas. “O que ocorreu é extremamente simples. Trata-se de pura delinquência”, disse Cameron no debate parlamentar convocado em caráter de emergência. O autor de vários livros de história militar, entre eles“A batalha das Malvinas”, Max Hastings, foi mais longe: “São bestas selvagens.

Comportam-se como tais. Não têm a disciplina que se necessita para ter um emprego, nem a consciência moral para distinguir entre o bem e o mal”, escreveu no Daily Mail.

Com mais 2.300 prisões e mais de 1.200 processados por roubo ou violência, o desfile pelas cortes não permitiu ver nenhuma “besta selvagem”. Ao invés disso, o perfil dos acusados surpreendeu os britânicos que tiveram que enterrar a primeira caracterização simplista – negros, afrocaribenhos, pobres e excluídos – para começar a entender um fenômeno complexo. Designers gráficos, estudantes universitários, professores, adolescentes, púberes, desempregados, marginais, um aspirante a entrar no exército, uma modelo: a variedade era de um tamanho suficiente para desafiar qualquer estereótipo. Cerca de 80% dos que desfilaram pelos tribunais têm menos de 25 anos. A metade dos processados são menores de 18: muito poucos superam os 30 anos.

O apelido de “besta selvagem” tem uma arrogância de classe que não deveria ocultar seu principal objetivo: despojar os distúrbios de qualquer significado. A milhões de anos luz desta perspectiva, Martins Luther King dizia que “os distúrbios são a linguagem dos que não têm voz”. Na Inglaterra, o problema é que esta linguagem foi, em vários momentos, um balbucio ininteligível.

Macbeth na encruzilhada
O conflito começou com os protestos pela morte de Mark Duggan, no bairro de Tottenham, baleado pela polícia que, aparentemente, foi rápida demais no gatilho. Em um primeiro momento era um protesto político local marcado pela tensão étnica em um bairro pobre: o primeiro objeto de ataque foram dois carros de patrulha da polícia queimados pelos manifestantes. Este pontapé inicial converteu-se rapidamente em quatro noites de saques de grandes lojas, roubo indiscriminado de comércios de bairro e indivíduos e enfrentamentos com a polícia em bairros pobres de Londres e da maioria das grandes cidades da Inglaterra.

Mas além de expressar uma exuberância dionisíaca, destrutiva e raivosa, que sentido pode ter o incêndio de uma pequena loja familiar de móveis no sul de Londres que havia sobrevivido a duas guerras mundiais? Como explicar que dois tipos com aspecto de hooligans simularam ajudar um jovem ferido para roubar-lhe o que ainda não tinham lhe roubado, como ocorreu com o estudante malaio Ashrag Haziq? Os distúrbios foram então “um relato contato por um idiota cheio de som e fúria que não significa nada”, como na famosa definição que Shakespeare faz da vida em Macbeth?

Nos distúrbios houve de tudo. A presença de bandos de jovens e o roubo meramente oportunista estiveram tão na ordem do dia como o uso de torpedos via celular para coordenar os ataques em lojas e bairros. Em uma sociedade onde o dinheiro se converteu em valor absoluto, a identidade parece definir-se, para muita gente, pela posse de tênis de marca ou do modelo de celular mais recente, ao qual essas pessoas não tem acesso porque vivem mergulhados na pobreza. Se a oportunidade aparece, por que não? Isso é o que fazem os banqueiros, os políticos, as grandes fortunas.

O atual ministro da Educação, Michael Gove, disparou indignado contra “uma cultura da cobiça, da gratificação instantânea, do hedonismo e da violência amoral”. O mesmo Gove gastou em 2006, 10 mil dólares para sua casa e passou a conta para a Câmara dos Comuns como parte de sua “dieta” parlamentar. Entre os objetos adquiridos, havia uma mesa que custou mais de 1.000 dólares, um móvel Manchu por 700 dólares e um abajur de 250 dólares.

Pobreza e gangues
Um dos casos que contribuíram para romper o estereótipo foi o de Alexis Bailey, um professor de escola primária de 31 anos, muito respeitado em seu trabalho, preso em uma loja da Hi-fi em Croydon, sul de Londres. Bailey ganha 1.000 libras em mês (cerca de 1.600 dólares) e paga de aluguel mais da metade disso: 550 libras (uns 900 dólares). No caso de Bailey, como no de Trisha, graduada em Psicologia Infantil que acaba de perder seu trabalho, percebe-se o núcleo de uma narrativa distinta da “mera delinquência” de “bestas selvagens”. “Ainda estou pagando o empréstimo que recebi para estudar. Cameron não faz nada. Não tem ideia do que é ser jovem. Dizem que nos aproveitamos dos benefícios. Mas queremos trabalho”, disse Trisha ao The Guardian.

Estes germens de discurso apareceram várias vezes. Na voz de uma mãe em um supermercado (“não tem nada, o que vão fazer?”), na de um jovem desempregado (“é preciso se rebelar”). As gangues juvenis são a expressão final e niilista deste fenômeno de não pertencimento social e de falta de perspectiva de vida. “As gangues oferecem uma relação de pertencimento a uma estrutura, uma disciplina, um respeito que os jovens não encontram em nenhum outro lado”, escreve Ann Sieghart no The Independent.

Esta semana, em um primeiro distanciamento de sua própria caracterização dos distúrbios, David Cameron lançou uma revisão de toda a política governamental para “recompor uma sociedade exausta”, evitar uma “lenta desintegração moral” e “solucionar problemas sociais que cresceram durante muito tempo”. É um começo. O que está claro é que as prisões, que em sua maioria já estão superpovoadas, não resolvem o problema de fundo: em alguns meses os mesmos jovens sairão para as ruas. A grande questão é se uma coalizão como a conservadora-liberal democrata, que fez do ajuste fiscal uma religião, pode levar adiante uma política mínima que comece a lidar com um fenômeno que tem complexas raízes econômicas sociais e culturais.

Tradução: Katarina Peixoto

Convite Exposição Entre Laços


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

BRINCADEIRA TEM HORA - Thaís Fread canta Zeca Pagodinho



BRINCADEIRA TEM HORA - Thaís Fread canta Zeca Pagodinho
Amanhã, 11/08, às 21:00
Local: Feitiço Mineiro - Restaurante e Bar
SCLN 306 - Bloco B - Asa Norte
Horário: 21 horas
Couvert: R$ 15,00
Espetáculo não recomendado para menores de 15 anos.

As inscrições ao Prêmio Cassiano Nunes 2011 Ensaio foram prorrogadas até 15 de Agosto

EDITAL DE CHAMADA

Concurso Nacional de Prosa
Prêmio Cassiano Nunes 2011- Ensaio

O Espaço Cassiano Nunes, como espaço de pesquisa nas áreas de Letras e Arte da Biblioteca Central da Universidade de Brasília, informa que estão abertas as inscrições para o Concurso Nacional de Prosa Prêmio Cassiano Nunes 2011- Ensaio.

DAS INSCRIÇÕES:
As inscrições para o Concurso Nacional de Prosa, Prêmio Cassiano Nunes 2011- Ensaio estarão abertas no período de 27 de abril de 2011 a 00h00 a 27 de junho às 23h59min, pela Internet.

DOS CONCORRENTES:
Podem concorrer escritores de qualquer idade, formação ou nacionalidade.
Os concorrentes deverão enviar suas obras para o endereço:
http://soac.bce.unb.br/index.php/ecn/ECN-Ensaio
Os concorrentes deverão informar todos os metadados solicitados pelo sistema.

DA OBRA:
O ensaio deve ser sobre a obra de Cassiano Nunes numa livre escolha de abordagem.
O texto submetido deve ser característico da ensaística literária contemporânea e ser rigorosamente inédito escrito em língua portuguesa, com no mínimo 30 páginas, fonte Arial 12, espaçamento 1,5. O arquivo de texto não poderá conter informações pessoais e deve ser compatível com o MS WORD 2007.

DA COMISSÃO JULGADORA:
A Comissão julgadora é formada pelos conceituados ensaístas: Fábio Lucas, Eliane Vasconcellos, João Vianey Cavalcante Nuto e Maria de Jesus Evangelista.

DO PRÊMIO:
Os prêmios serão entregues em 15 de outubro de 2011 às 20h, no Auditório da Fundação Darcy Ribeiro/FUNDAR/UnB:
1º Lugar – R$ 5.000,00 (Cinco mil reais)
2º Lugar – R$ 3.000,00 (Três mil reais)
3º Lugar – R$ 2.000,00 (Dois mil reais)
DO DIPLOMA E PUBLICAÇÃO:
Além do prêmio em reais aos três primeiros escritores classificados, será entregue Diploma impresso, e o seu ensaio será publicado na página do concurso. Os demais concorrentes selecionados pela Comissão Julgadora receberão Certificado impresso.

DOS CASOS OMISSOS:
Casos omissos serão dirimidos pela Comissão Julgadora cujas decisões são irrecorríveis.
A inscrição implicará, por parte do concorrente, a aceitação dos termos do presente Edital, bem como a cessão, sem ônus, dos direitos autorais dos trabalhos inscritos, para eventual publicação, até 05 (cinco) anos após o encerramento do concurso.

DA COMISSÃO ORGANIZADORA:
Profª. Dra. Maria de Jesus Evangelista (Curadora ECN/BCE/UnB)
Profª. Dra. Sely Maria de Sousa Costa (Diretora da BCE/UnB)

DA COMISSÃO TÉCNICA:
Marília Augusta de Freitas (Bibliotecária e Designer BCE/UnB)
Janaína Barcelos Resende (Bibliotecária BCE/UnB)
Thayse Natália Cantanhede Santos (Processos Técnicos BCE/UnB)


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Íris do Olho da Noite, novo romance de Menezes y Morais



A Íris do Olho da Noite, décimo-primeiro livro de Menezes y Morais, é, sobretudo, um romance de ideias, uma história de amor bem-sucedido, sem pieguice, sentimentalismo, entre um casal liberal – ele economista, ela professora – que tem dois filhos pré-adolescentes. São personagens nascidos em Brasília (DF), cenário geográfico onde a trama acontece. É a partir da lógica e da ótica desse casal bem-resolvido que o enredo do romance agrega ação e inquietação dos demais personagens que compõem os fios da teia narrativa. Dentro da estrutura ficcional do romance tem um livro de poesia; e metade das personagens atendem pelos nomes de Homem, Mulher, Pai, Mãe, Filho. As demais personas atendem pelos nomes normais, reais, como o poeta Cassiano Nunes, o crítico Hélio Pólvora e o compositor Renato Matos, homenageados pelo Autor, resgatando uma tradição literária de Dante Alighieri em A Divina Comédia e o brasileiro Jorge Amado. A estrutura narrativa de A Íris do Olho da Noite dispensa o travessão no diálogo interativo das personagens; elas discutem e questionam algumas das questões vitais da humanidade, como sexo, drogas, ética, família, homossexualismo, opressão, liberdade, fome, amor, ódio, guerra, paz, arte, vida, morte.

Menezes y Morais é jornalista, professor, teatrólogo, contista, ensaísta, poeta e historiador. Atuou em veículos como O DIA (PI), O Globo (RJ e BsB), Correio Braziliense, Jornal de Brasília, Crítica, Portal iG.

Serviço:
Lançamento do livro “A Íris do Olho da Noite”
Autor: Menezes y Morais
Dia: 06/09/2011 – terça-feira
Hora: 19h00
Local: 21ª edição do Sarau Poemação, na Biblioteca Nacional de Brasilia
Entrada Franca.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O brasileiro come veneno


Cultura
O documentarista Silvio Tendler fala sobre seu filme/denúncia contra os rumos do modelo adotado na agricultura brasileira
01/08/2011- Jornal BRASIL DE FATO
Aline Scarso, da Redação

Silvio Tendler é um especialista emdocumentar a história brasileira. Já o fez apartir de João Goulart, Juscelino Kubitschek,Carlos Mariguela, Milton Santos, Glauber Rocha e outros nomes importantes. Em seu último documentário, Silvio não define nenhum personagemem particular, mas dá o alerta para uma grave questão que atualmente afeta a vida e a saúde dos brasileiros: o envenenamento a partir dos alimentos.

Em O veneno está na mesa, lançado na segunda-feira (25) no Rio de Janeiro, o documentarista mostra que o Brasil está envenenando diariamente sua população a partir do uso abusivo de agrotóxicosnos alimentos. Em um ranking para se envergonhar, o brasileiro é o que mais consome agrotóxico em todo o mundo, sendo 5,2 litros a cada ano por habitante. As consequências, como mostra o documetário, são desastrosas.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Silvio Tendler diz que o problema está no modelo de desenvolvimento brasileiro. E seu filme, que também é um produto da Campanha Permanente Contraos Agrotóxicos e pela Vida, capitaneada por uma dezena de movimentos sociais, nos leva a uma reflexão sobre os rumos desse modelo. Confira.

Brasil de Fato – Você que é um especialista em registrar a história do Brasil, por que resolveu documentar o impacto dosagrotóxicos sobre a agricultura e não um outro tema nacional?
Silvio Tendler – Porque a partir deagora estou querendo discutir o futuro e não mais o passado. Eu tenho todo o respeito pelo passado, adoro os filmes que fiz, adoro minha obra. Aliás, meus filmes não são voltados para o passado, são voltados para uma reflexão que ajuda a construir o presente e, de uma certa forma, o futuro. Mas estou muito preocupado. Na verdade esse filme nasceu de uma conversa minha com [o jornalista eescritor] Eduardo Galeano em Montevidéu [no Uruguai] há uns dois anos atrás, em que discutíamos o mundo, o futuro, a vida. E o Galeano estava muito preocupado porque o Brasil é o país que mais consumia agrotóxico no mundo. O mundo está sendo completamente intoxicado por uma indústria absolutamente desnecessária e gananciosa, cujo único objetivo realmente é ganhar dinheiro. Quer dizer, não tem nenhum sentido para a humanidade que justifique isso que está se fazendo com os seres humanos e a própria terra. A partir daí resolvi trabalhar essa questão. Conversei com o João PedroStédile [coordenador do Movimentodos Trabalhadores Rurais Sem Terra], e ele disse que estavam preocupados comisso também. Por coincidência, surgiu a Campanha permanente contra os Agrotóxicos, movida por muitas entidades, todas absolutamente muito respeitadase respeitáveis. Fizemos a parceria e o filme fi cou pronto. É um filme que vai ter desdobramentos, porque eu agora quero trabalhar essas questões.

Então seus próximos do cumentários deverão tratar desse tema?
Pra você ter uma ideia, no contrato inicialdesse documentário consta que ele seria feito em 26 minutos, mas é muita coisa pra falar. Então ficou em 50 [minutos]. E as pessoas quando viram o filme, ao invés de me dizerem ‘está muito longo’, disseram ‘está curto, você tem quefalar mais’. Quer dizer, tem que discutir outras questões, e aí eu me entusiasmei com essa ideia e estou querendo discutir temas conexos à destruição do planeta por conta de um modelo de desenvolvimento perverso que está sendo adotado. Uma questão para ser discutida deforma urgente, que é conexa a esse filme, é o agronegócio. É o modelo de desenvolvimento brasileiro. Quer dizer, porque colocar os trabalhadores para fora da terra deles para que vivam de forma absolutamente marginal, provocando o inchaço das cidades e a perda de qualidadede vida para todo mundo, já que no espaço onde moravam cinco, vão morar 15? Por que se plantou no Brasil esse modelo que expulsa as pessoas da terra para concentrar a propriedade rural em poucas mãos, esse modelo de desenvolvimento, todo ele mecanizado, industrializado, desempregando mão de obra para que algumas pessoas tenham um lucro absurdo? E tudo está vinculado à exploração predatória da terra. Por que nós temos que desenvolver o mundo, a terra, o Brasil em função do lucro e não dos direitos do homem e da natureza? Essas são as questões que quero discutir.

Você também mostrou que até mesmo os trabalhadores que não foram expulsos do campo estão morrendo por aplicar em agrotóxicos nas plantações. O impacto na saúde dessesagricultores é muito grande...
É mais grave que isso. Na verdade, o cara é obrigado a usar o agrotóxico. Se ele não usar o agrotóxico, ele não recebeo crédito do banco. O banco não financia a agricultura sem agrotóxico. Inclusive tem um camponês que fala isso no filme, o Adonai. Ele conta que no dia em que o inspetor do banco vai à plantação verificar se ele comprou os produtos, se você não tiver as notas da semente transgênica, do herbicida, etc, você é obrigado a devolver o dinheiro. Então não é verdade que se dá ao camponês agricultor o direito de dizer ‘não quero plantar transgênico’, ‘não quero trabalhar com herbicidas’, ‘quero trabalhar com agricultura orgânica, natural’. Porque para o banco, a garantia de que a safra vai vingar não é o trabalho do camponês e a sua relação com a terra, são os produtos químicos que são usados para afastar as pestes, afastar pragas. Esse modelo está completamente errado. O camponês não tem nenhum tipo de crédito alternativo, que dê a ele o direito de fazer um outro tipo de agricultura. E aí você deixa as pessoas morrendo como empregadas do agronegócio, como tem o Vanderlei, que é mostrado no filme. Depois de três anos fazendo a tal da mistura dos agrotóxicos, morreu de uma hepatopatia grave. Tem outra senhora de 32 anos que está ficando totalmente paralítica por conta do trabalho dela com agrotóxico na lavoura do fumo.

A impressão que dá é que osbrasileiros estão se envenenandosem saber. Você acha que o filme pode contribuir para colocar oassunto em discussão?
Eu acho que a discussão é exatamente essa, a discussão é política. Eu, de uma certa maneira, despolitizei propositadamente o documentário. Eu não queria fazer um discurso em defesa da reforma agrária ou contra o agronegócio para não politizar a questão, para não parecer que, na verdade, a gente não quer comer bem, a gente quer dividir a terra. Esão duas coisas que, apesar de conexas, eu não quis abordar. Eu não quis, digamos assustar a classe média. Eu só estou mostrando os malefícios que o agrotóxico provoca na vida da gente para quea classe média se convença que tem quelutar contra os agrotóxicos, que é uma luta que não é individual, é uma luta coletiva e política. Tem muita gente que parte do princípio ‘ah, então já sei, perto daminha casa tem uma feirinha orgânica eeu vou me virar e comer lá’, porque são pessoas que têm maior poder aquisitivo e poderiam comprar. Mas a questão não é essa. A questão é política porque o agrotóxico está infiltrado no nosso cotidiano, entendeu? Queira você ou não, o agrotóxicochega à sua mesa através do pão, da pizza, do macarrão. O trigo é um trigo transgênico e chega a ser tratado com até oito cargas de pulverizador por ano. Você vai na pizzaria comer uma pizza deliciosa e aquilo ali tem transgênico. O que você está comendo na sua mesa é veneno. Isso independe de você. Hoje nada escapa. Então, ou você vai ser um monge recluso, plantando sua hortinha e sua terrinha, ou se você é uma pessoa que vai ficar exposta a isso e será obrigada a consumir.

Como você avalia o governo Dilma a partir dessa política de isenção fiscal para o uso de agrotóxico no campo brasileiro?
Deixa eu te falar, o governo Dilma está começando agora, não tem nenhum ano, então não dá para responsabilizá-la por essa política. Na verdade esse filme vai servir de alerta para ela também. Muitas das coisas que são ditas no filme, eles [o governo] não têm consciência. Esse filme não é para se vingar de ninguém. É para alertar. Quer dizer, na verdade você mora em Brasília, você está longe do mundo, e alguém diz para você ‘ah, isso é frescura da esquerda, esse problema não existe’, e os relatórios que colocam na sua mesa omitem as pessoas que estão morrendo por lidar diretamente com agrotóxico. [As mortes] vão todas para as vírgulas das estatísticas, entendeu? Acho que está na hora de mostrar que muitas vidas não seriam sacrificadas se a gente partisse para um modelo de agricultura mais humano, mais baseado nos insumos naturais, no manejo da terra, ao invés de intoxicar com veneno os rios, os lagos, os açudes, as pessoas, as crianças que vivemem volta, entendeu? Eu acho que seria ótimo se esse filme chegasse nas mãos da presidenta e ela pudesse tomar consciência desse modelo que nós estamos vivendo e, a partir daí, começasse a mudar as políticas.

No documentário você optoupor não falar com as empresasprodutoras de agrotóxicos. Essa ideia fi cou para um outrodocumentário?
É porque eu não quis fazer um filme que abrisse uma discussão técnica. Se as empresas reclamarem muito e pedirem para falar, eu ouço. Eu já recebi alguns pedidos e deixei as portas abertas. No Ceará eu filmei um cara que trabalha com gado leiteiro que estava morrendo contaminado por causa de uma empresa vizinha. Eu filmei, a empresa vizinha reclamou e eu deixei a porta aberta, dizendo ‘tudo bem, então vamos trabalharem breve isso num outro filme’. Se as empresas que manipulam e produzemagrotóxico me chamarem para conversar, eu vou. E vou me basear cientificamente na questão porque eles também são craques em enrolar. Querem comprovar que você está comendo veneno e tudo bem (risos). E eu preciso de subsídios para dizer que não, que aquele veneno não é necessário para a minha vida. Nesse primeiro momento, eu quis botar a discussão na mesa. Algumas pessoas já começaram a me assustar, ‘você vai tomar processo’, mas eu estou na vida para viver. Se o cara quiser me processar por um documentário no qualeu falei a verdade, ele processa pois tem o direito. Agora, eu tenho direito como cineasta, de dizer o que eu penso.

Esse filme será lançado somente no Rio ou em outras capitais também?
Eu estou convidado também para ir para Pernambuco em setembro, mas o filme pode acontecer independente de mim. Esse filme está saindo com o selinho de ‘copie e distribua’. Ele não será vendido. A gente vai fazer algumas cópias e distribuir dentro do sentido de multiplicação, no qual as pessoas recebem as cópias, fazem novas e as distribuem. O ideal é que cada entidade, e são mais de 20 bancando a Campanha, consiga distribuir pelo menos mil unidades. De cara você tem 20 mil cópias paraserem distribuídas. E depois nós temos os estudantes, os movimentos sociaise sindicais, os professores. Vai ser uma discussão no Brasil. Temos que levaresse documentário para Brasília, para o Congresso, para a presidenta da República, para o ministro da Agricultura, para o Ibama. Todo mundo tem que veresse filme.

E expectativa é boa então?
Sim. Eu sou um otimista. Sempre fui.

Foto: Gabriela Nehring

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

3ºs Juegos Florales en 2011 - Montevideo




NA TARDE QUE SE AVIZINHA

sejamos eternos, querida,
mesmo na plenitude de nossa ira.

chega de nossos discursos prontos,
não suportamos mais esperar o fim do verão.

estranhamos, em silêncio, conselhos dos mais velhos.
tentamos, inutilmente, reler os jornais passados;
o que buscamos nas páginas surradas?

a paisagem se adensa na geografia das ruas
de nossa cidade desconhecida.

mergulhemos no assombro de nosso desejo;
é sempre possível a palavra mais pura e límpida, querida,
mesmo fora de nosso dicionário.

o cheiro do feijão, em panela de ferro,
reacende o fogo de lenha da imaginação: o relógio da manhã.

herdeiros de nossa própria memória,
divisamos a rua de nossa fraqueza e ausência, na tarde que se avizinha.

o leito seco do rio aguarda a estação chuvosa nas cabeceiras;
depositemos, pois, iguarias e provisões na vazante de nossas horas.

sejamos eternos, querida,
mesmo na finitude de nosso dia.

Marcos Freitas


EN LA TARDE QUE SE AVECINA

seamos eternos, querida,
incluso en la plenitud de nuestra ira.

basta de nuestros discursos armados,
no soportamos más esperar el fin del verano.

extrañamos, en silencio, consejos de los más viejos.
intentamos, inútilmente, releer los diarios pasados;
¿qué buscamos en las páginas usadas?

el paisaje se espesa en la geografía de las calles de nuestra ciudad desconocida.

buceemos en el asombro de nuestro deseo;
es siempre posible la palabra más pura y límpida, querida,
asimismo fuera de nuestro diccionario.

el olor de frijoles, en cazuela de hierro,
aviva el fuego de leña de la imaginación: el reloj de la mañana.

herederos de nuestra propia memoria,
divisamos la calle de nuestra debilidad y ausencia, en la tarde que se avecina.

el lecho seco del río aguarda la estación lluviosa en su nacimiento;
depositemos, pues, manjares y provisiones en la salida de nuestras horas.

seamos eternos, querida,
incluso al final de nuestro día.

Marcos Freitas
Publicado en la Antologia del 3ºs Juegos Florales en 2011 - Montevideo


Montevideo, 2011 – Año del Bicentenario de la primera gesta de la independencia uruguaya.

INFORME PRIMARIO – Ficha de inscripción
Fecha de realización: Miércoles 4 al viernes 7 de octubre de 2011.
País: Uruguay, donde se realizaron los 1ºs Juegos Florales en 2004, en ocasión de la celebración del bicentenario de la Catedral y el Cabildo de Montevideo y los 2ºs durante el mes de abril de 2010.
Propósitos: Los Juegos florales celebran las artes y la cultura en general, porque celebran la vida de los pueblos, desde la más remota antigüedad. Organización: Dirección del Movimiento Cultural aBrace.

Espacios de realización: próximamente se establecerán los lugares en que serán recibidos los escritores y artistas participantes. Estos espacios se denominarán Jardines Culturales y estarán ubicados en Montevideo y en otras ciudades del país. Se tratará de organismos públicos o privados, organizaciones culturales, instituciones y o centros recreativos.

Jardines Culturales. Los titulares de los mismos serán quienes organicen la recepción local de los participantes solicitados a la Dirección de aBrace o que la Dirección les envíe y correrá por su cuenta la organización de las actividades, programación y difusión de las mismas, coordinando la presentación de los invitados con artistas y escritores locales.

Condiciones: Por tratarse de una actividad participativa y solidaria, no se percibirán aranceles de inscripción ni ninguna otra paga, siendo el ingreso libre y gratuito a todos los espacios de realización. Tampoco se realizarán contrataciones de artistas, ni se abonarán honorarios a los participantes, quienes deberán financiarse de su propio peculio sus traslados, alimentación y hospedajes. La Dirección de aBraceCultura no se responsabiliza por gastos de cualquier especie, realizados por los participantes. Esta es la forma en que cada uno contribuirá a la realización de la actividad en forma copartícipe.

Servicios: La organización de los Juegos Florales procurará y pondrá a disposición de los interesados listados de hoteles, restoranes, transportes y demás insumos necesarios, para que comparativamente de calidad y precios, los partícipes puedan escoger lo que mejor convenga a sus posibilidades. También se indicarán puntualmente y se destacarán aquellos servicios que otorguen ventajas particulares u ofertas y se dispondrá de espacios para muestra y adquisición de libros, discos, DVD y artesanías.
Participantes del evento: Podrán participar del Encuentro 3ºs. Juegos Florales del SXXI todos los escritores y artistas que realicen su inscripción hasta el 25 de setiembre de 2011, completando el formulario y enviándolo a abrace@abracecultura.com o bianched@adinet.com.uy y haya sido confirmada su aceptación por la Dirección de aBraceCultura.

La Dirección del Movimiento, acorde a las características de cada aspirante, destinará los mismos a uno o más Jardines Culturales donde serán recibidos por los coordinadores locales. La funcionalidad de los eventos consistirá en manifestaciones artístico-musicales, performances y la dedicación a lectura, charlas y presentaciones de los artistas en espacios públicos, entidades culturales, centros de enseñanza, radios y otros medios, durante los días en que se desarrolle la actividad.

aBrace editora contribuirá con la edición de un poemario en una muestra que será distribuida en los países de habla hispana y portuguesa, a través de sus representaciones y lanzada bajo el título de 3os. Juegos Florales del SXXI, durante el evento. La edición, publicación y difusión de la obra serán financiadas por aBrace Editora, sin que signifique costo alguno para los escritores, quienes deberán solventar solamente la traducción de su obra por el equipo de poetas de aBraceCultura o los términos de corrección y revisión editoriales sobre obras ya traducidas. Los interesados deberán presentar sus trabajos hasta el 31 de julio de 2011.
Medios propios de divulgación: aBraceCultura Revista INTERNACIONAL, página web: www.abracecultura.com, y difusión vía email.

Nina Reis y Roberto Bianchi - Movimiento Cultural aBrace – DIRECTORES

FICHA DE INSCRIPCIÓN INDIVIDUAL
enviar completa a: abrace@abracecultura.com o
bianched@adinet.com.uy

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Frente nacional contra tentativas de privatizar a água

ÁGUA - AMÉRICA LATINA
Frente nacional contra tentativas de privatizar a água
Fabiana Frayssinet

Rio de Janeiro, Brasi, 26/7/2011, (IPS) - Para frear o que consideram um processo em curso de privatização da água na América Latina, organizações da sociedade civil começam a coordenar ações conjuntas na região.

Elas denunciam a aplicação “de diversas formas sutis” que tendem a deixar este recurso fora do controle estatal. Mesmo admitindo que o diagnóstico sobre a situação do controle da água ainda não está claro, o fórum de organizações “trabalha nesse debate”, explicou à IPS o sacerdote Nelito Dornelas, assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Fórum Nacional de Mudanças Climáticas.

O que está claro é que há muitas situações pontuais em cada país inclinadas a esse fim, segundo os organizadores do Seminário Internacional: Panorama Político Sobre Estratégias de Privatização da Água na América Latina”, realizado nos dias 20 e 21, na sede da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “No Brasil está em curso com relação à água um processo semelhante ao que ocorreu com a energia elétrica quando, depois da privatização, as tarifas aumentaram cerca de 400%”, afirmou, como exemplo, o Movimento dos Afetados pelas Represas (MAB). “Temos de mobilizar a população em torno deste debates”, disse Dornelas.

Para os participantes do Seminário, é preciso convocar um referendo nos países da região, como o realizado em 2004 no Uruguai, que aprovou o controle social dos recursos hídricos do país, ou, mais recentemente, na Itália. Entre outros pontos submetidos a votação, 95% dos que participaram da consulta optaram pelo NÃO à privatização da água. “Queremos que o governo se ocupe do serviço de águas e do recurso, de modo geral”, destacou o MAB.

A América Latina tem hoje o maior controle e posse dos recursos naturais do planeta e, por isto, é importante começar a se mobilizar para preservar essa riqueza, explicou à IPS Rogério Hohn, da coordenação nacional do MAB. Nesse sentido, o seminário “buscou promover um amplo debate das organizações de cada país com vistas a soluções conjuntas”, acrescentou. Para o MAB, a privatização da água se expressa de diversas formas sutis, além do controle do serviço de abastecimento domiciliar.

Por exemplo, entregando aos Municípios a administração desse recurso para enfraquecer negociações em nível nacional, cobrando por seu uso ou apoiando-se em setores como agricultura, mineração ou das empresas de saneamento. “Inclusive as represas para geração de energia elétrica são uma forma de privatização da água, porque não se vende apenas energia, mas a água que está represada”, destacou Hohn.

A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, chamou a atenção para um aspecto do informe nacional sobre disponibilidade e qualidade de recursos hídricos, apresentado recentemente pela Agência Nacional de Águas (ANA). O estudo mostra que 69% dos recursos hídricos brasileiros são utilizados para a irrigação de cultivos e pastagens, e que mais de 90% deles vão para o setor privado.

“Temos de ver se essas áreas de irrigação estão em zonas vulneráveis em oferta de recursos hídricos no futuro, para que possamos garantir a produção agrícola com oferta de água, ou se é preciso redirecioná-las”, disse a ministra, ao se referir a uma eventual falta de água para o setor em algumas regiões. O informe, que o governo de Dilma Rousseff tomará como base para a implementação de políticas de administração de recursos, mostra que no setor agropecuário o consumo de água dos animais equivale a 12%, enquanto a demanda de cidades é de 10% e da indústria 7%.

O Brasil é considerado a grande reserva de água doce do mundo, já que possui 11,6% da disponibilidade no planeta e 53% da disponibilidade na América do Sul. Segundo o estudo da ANA, cada brasileiro teria à sua disposição 34 milhões de litros de água doce por ano. Oferta esta que pode baixar se avançarem os processos de privatização do setor, segundo Edson Aparecido da Silva, coordenador da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental.

Em entrevista à IPS, Edson explicou que no Brasil grande parte da operação de serviços de saneamento ainda é pública, atendendo quase a totalidade dos 190 milhões de habitantes do país. O setor privado responde por apenas nove milhões de pessoas, ressaltou. Entretanto, os privados já manifestaram “que em pouco tempo podem ampliar sua inserção na área do saneamento em cerca de 30% da população”. Isto significa “que convivemos o tempo todo com a ameaça de mais privatização”, alertou.

Esse processo vai na contramão do que ocorre em países como Argentina, Alemanha, França e Itália, onde os serviços de saneamento voltam ao poder do Estado, ressaltou Edson. Serviços “que eram privados e voltam a ser públicos porque os governos viram que ficavam caros para a população e, com isso, se excluía muitos cidadãos, sobretudo nos países mais pobres”, concluiu.

Fonte: Envolverde/IPS (FIN/2011)