O momento mais esperado do dia veio depois de um forte temporal que ’lavou’ o município de Alto Paraíso. Mas o sol reapareceu e a programação da tarde de sábado movimentou, pelo segundo ano consecutivo, a troca de sementes crioulas na região
Ao som de uma boa música e em
clima de confraternização, a Feira do Produtor Rural foi palco da prática que
tem gerado entre agricultores tradicionais a expectativa de preservação cultural
e dos seus princípios de produção.
A troca de sementes reuniu no
último fim de semana, em Alto Paraíso de Goiás, expositores de diferentes
regiões do país, que trouxeram na bagagem o resgate histórico de gerações.
Amilton Fernando Munari, de Maquiné, no Rio Grande do Sul, trouxe mais de 20
variedades de feijão, milho, batata, girassol e outras espécies. O conhecimento
sobre cultivo e estocagem foi herdado do pai e avô. Hoje, o produtor que já
virou referência da produção orgânica no país, percorre feiras e encontros de
Agroecologia para engrossar o coro contra o agronegócio. ‘É o momento de a gente
se encontrar e pensar juntos sobre a nossa soberania alimentar e nutricional.
Foi muito importante ver o interesse das pessoas, porque a semente que a gente
troca leva com ela a cultura. Ela é a vida e nos faz viver mais perto da
natureza, senão a gente fica distante, vivendo em um mundo artificial”, comentou
Munari.
Variedades centenárias de milho
crioulo produzido pelos calungas da região e outras espécies que retratam a
riqueza da agrobiodiversidade brasileira, além de mudas e plantas trazidas por
moradores do município, atraíram todas as atenções de quem passou pela feira no
sábado à tarde. “Eu fiquei muito satisfeito de ver até crianças trocando de
sementes. Esse valores cooperativos sendo disseminados entre elas, pra mim, foi
ótimo de ver”, relatou Julio Itacarambi, expositor e agricultor de Alto
Paraíso.
Em uma dinâmica de doação, permuta e comercialização, as amostras movimentaram bancos de sementes de produtores rurais, organizações sociais, instituições de ensino, comunidades tradicionais e o que começa a ser formado com a inserção da feira no calendário de eventos da cidade.
Em uma dinâmica de doação, permuta e comercialização, as amostras movimentaram bancos de sementes de produtores rurais, organizações sociais, instituições de ensino, comunidades tradicionais e o que começa a ser formado com a inserção da feira no calendário de eventos da cidade.
A II Feira de
Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros, promovida pelo Centro UnB Cerrado, em
parceria com a Cooperativa Frutos do Paraíso, representa o amadurecimento da
proposta de criação da rede de conservação, difusão e intercâmbio de variedades
crioulas na região. A discussão, iniciada em 2011, durante a Feira de Produtos
Sustentáveis, ganhou força e visibilidade este ano, reunindo um público ainda
mais expressivo. Segundo a organização do evento, mais de 300 pessoas, entre
convidados e visitantes, compareceram ao evento.
“A ideia da conservação se
faz pela ação e consolidação das redes de reciprocidade. O primeiro passo para
que as pessoas se conscientizem da importância das plantas no nosso mundo é que
elas despertam um sentimento de proximidade com o reino vegetal. Tem um ditado
francês que diz: ‘Para ser feliz por um dia, você bebe uma garrafa de vinho. Por
um ano, você se casa com uma linda mulher. Para ser feliz por toda uma vida,
você se torna um jardineiro’. Na prática, eu sinto que todo mundo hoje,
consciente ou inconscientemente, ouve esse chamado e está começando a perceber
a importância disso. Então o que a gente está realizando aqui é a
instrumentalização e a oportunidade para as pessoas darem vazão a esse
sentimento e a essa prática”, expôs o coordenador do evento, Pedro de Castro
Guimarães.
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